Os juros futuros percorreram a segunda etapa do pregão desta quarta-feira (9) em alta, movimento mais modesto se comparado à deterioração dos demais ativos locais, mas que ganhou fôlego no fim da sessão. A tarifa comercial de 50% para o Brasil anunciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, fez os vencimentos a partir de 2028 renovarem máximas intradia.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2026 oscilou a 14,930%, vindo de 14,923% no ajuste anterior. O DI de janeiro de 2027 passou de 14,175% no ajuste da véspera para 14,270%. O vértice de janeiro de 2028 marcou 13,595%, de 13,419% no ajuste antecedente, e o DI de janeiro de 2029 aumentou de 13,304% no ajuste de terça-feira (8) para 13,485%.
No mesmo horário, os juros dos Treasuries recuavam em todos os vencimentos, em reação à publicação da ata de política monetária do Federal Reserve (Fed).
– Agora o mercado não discute muito a necessidade de cortes de juros nos EUA. A questão é mais quando os cortes começam, e quantos serão – afirmou Flávio Serrano, economista-chefe do banco BMG.
O ciclo de flexibilização monetária americano é um fator decisivo para que o BC brasileiro possa fazer o mesmo aqui.
No fechamento do dia, porém, a aversão ao risco causada pela taxação de Trump sobre produtos brasileiros teve mais peso sobre os juros futuros. Para Tiago Hansen, diretor de gestão e economista da Alphawave Capital, a ofensiva tarifária de Trump foi o principal fator que afetou a curva brasileira nesta quarta, com destaque para a ponta longa.
– Mas o estresse maior está no dólar. Os juros até que não sentiram tanto a tarifa sobre o Brasil – ponderou.
Também nesta quarta, o Fed publicou a ata de sua última reunião. Na avaliação da Pantheon Macroeconomics, o documento indicou uma clara divisão no Comitê de Mercado Aberto (FOMC) sobre a trajetória futura da taxa de juros no país. A expressiva criação de empregos evidenciada no payroll de junho fortaleceu a ala mais “hawkish” da autoridade monetária americana, diz a Pantheon. Mesmo assim, a consultoria prevê que o mercado de trabalho dos EUA vai desacelerar a partir deste mês, o que permite cortes de 0,25 ponto porcentual dos juros nas reuniões de setembro, outubro e dezembro.
Matheus Spiess, estrategista macro da Empiricus Research, avalia que a dinâmica recente da curva de juros brasileira está mais atrelada a vetores domésticos do que externos.
– Os vértices são “reféns” de dois temas: a evolução das tratativas do governo e Congresso em relação ao aumento do IOF, e o noticiário de curto prazo sobre dados de atividade e inflação.
Na sessão desta quarta, diz Spiess, a aversão ao risco provocada pelas declarações do presidente dos EUA fez mais preço sobre câmbio e Bolsa.
Na noite desta terça-feira (8), houve um primeiro encontro entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Haddad e Gleisi indicaram aos parlamentares que o Planalto não vai abrir mão dos termos do decreto que elevava o IOF.
– Essa retórica é ruim. O governo está tentando dobrar a aposta com o eleitorado, o que pressiona os vértices mais longos – aponta Spiess.