Diante de desafios no mercado interno e externo, a produção da indústria de celulose e papel e de petróleo e gás cresceu no Espírito Santo entre os meses de março e abril deste ano. A primeira teve alta de 15,2%, enquanto a segunda de 1%, de acordo com os dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM-PF), divulgados na quarta-feira (11) pelo do IBGE e compilados pelo Observatório Findes.
Os resultados dos dois segmentos não foram suficientes para reverter a queda dos demais na passagem de março para abril, na série com ajuste sazonal. Após registrar dois meses positivos consecutivos: 1,4% em fevereiro e 5,9% em março, a produção física da indústria do Espírito Santo recuou 3,5%.
O presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Paulo Baraona, comenta que o contexto macroeconômico é desafiador e que os juros elevados contribuem negativamente para esse resultado. “O setor industrial vem se empenhando para continuar avançando, mas esbarramos no alto patamar dos juros. Taxas mais altas significam crédito mais caro para as empresas e os consumidores. No caso das empresas, ele inviabiliza investimentos e dificulta o acesso a recursos de capital de giro, por exemplo, essenciais para as necessidades do dia a dia”, aponta.
Baraona ainda lembra que o setor industrial do Estado é resiliente, aprende com os desafios e sempre está em busca do crescimento socioeconômico do Espírito Santo. “Estamos falando de mais de 20 mil indústrias, que geram quase 273 mil empregos formais de Norte a Sul do ES”, afirma.
Em abril deste ano, na comparação com o mês de março, a produção da indústria de transformação retraiu 2,6%. Entre as quatro atividades pesquisadas pelo IBGE para o ES, três registraram queda: fabricação de produtos alimentícios (-11,1%), fabricação de produtos de minerais não metálicos (-2,2%) e metalurgia (-1,7%). Por outro lado, fabricação de celulose, papel e produtos de papel cresceu 15,2%.
“O crescimento da produção de papel e celulose em abril mostra um início de segundo semestre positivo, após quedas no primeiro trimestre do ano. O comportamento do setor em abril pode estar relacionado com a ausência de paradas programadas na fábrica da Suzano no Espírito Santo ao longo do segundo trimestre. No primeiro tivemos a parada programada na linha C. Já a próxima parada programada está agendada para ocorrer na linha B no último trimestre do ano”, analisa a economista-chefe da Findes e gerente executiva do Observatório Findes, Marília Silva.
Já a indústria extrativa, cresceu 1% na passagem de março para abril. O economista e gerente de Ambiente de Negócios do Observatório Findes, Nathan Diirr, explica que embora o IBGE não divulgue informações sobre o setor nesta base de comparação, é possível observar um aumento na produção de petróleo e gás natural no Estado quando se consulta os dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
“Segundo a ANP, a produção de petróleo no Espírito Santo em abril foi de 166,7 mil barris por dia (bbl/d), 8% maior do que registrado no mês anterior e 0,4% maior do que o registrado no mesmo mês de 2024. Já produção média de gás natural foi de 3,8 mil m³ por dia em abril, um resultado 12,2% maior em relação à produção de março, porém uma queda de 12,3% em comparação ao mesmo mês do ano anterior”, explica.
Segundo o economista, o aumento da produção de petróleo e gás natural em abril foi impulsionado, principalmente, pelo bom desempenho do Campo Jubarte – localizado na Bacia de Campos, no litoral sul do Espírito Santo –, que registrou aumentos de 7,9% na produção de petróleo (em bbl/dia) e de 15,4% na produção de gás natural (em mil m³/dia) na passagem de março para abril. “Mais especificamente, as instalações P-58, FPSO Cidade Anchieta e da P-57 impulsionaram a produção do campo. Já sobre o FPSO Maria Quitéria, o navio plataforma operou abaixo de 10% da sua capacidade em abril, contribuindo com uma menor parcela para o desempenho do campo Jubarte.”
Cenário econômico
A economista-chefe da Findes e gerente executiva do Observatório Findes, Marília Silva, explica que os quatro primeiros meses do ano foram marcados pela combinação de alguns fatores. Entre eles destacam-se inflação elevada, juros altos e aumento de incertezas no ambiente externo. “Esse conjunto pode, em algum grau, ter impactado negativamente o crescimento da indústria no período e se alongar nos próximos meses. Somado a esse contexto macroeconômico, ainda tivemos fatores operacionais locais que também influenciaram o desempenho do setor industrial, entre eles paradas programas para manutenção e operações diversas na extração de petróleo e gás natural”, comenta.
Desde janeiro até maio, quando foi realizada a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa Selic passou por três aumentos, até atingir o patamar de 14,75% ao ano (a.a.), uma das maiores taxas nos últimos 20 anos. “A medida do Copom vem sendo para controlar a inflação não apenas em 2025, mas também em 2026 também. O Comitê ainda não deu sinais de quando irá iniciar os cortes na taxa básica de juros da economia. Porém, o mercado espera que a Selic ficará em elevado patamar até o ano que vem, quando poderá cair para 12,5% a.a”, diz.
Já a inflação ao consumidor, mensurada pelo IPCA, passou de 4,56% no acumulado em 12 meses até janeiro para 5,32% no acumulado em 12 meses até maio, permanecendo acima da meta (que é de 3,0% com tolerância de 1,5 pontos percentuais para mais ou para menos). Na Região Metropolitana da Grande Vitória, a inflação saiu de 4,24% para 5,15% no mesmo período.
“Com relação à conjuntura internacional, os quatro primeiros meses do ano foram marcados por preocupações quanto ao desempenho futuro da economia dos Estados Unidos e do fluxo comercial global, devido aos anúncios de taxações de importações pelo presidente dos EUA. Contudo, os dados da economia dos Estados Unidos de abril mostraram que, por ora, não houve impacto significativo dessas medidas sobre o desempenho econômico do país, podendo aliviar tensões futuras”, aponta Marília.