O humorista Léo Lins comentou nesta quinta-feira (5) a decisão da Justiça Federal que o condenou a 8 anos e 3 meses de prisão por incitação ao crime, além do pagamento de R$ 303,6 mil por danos morais coletivos. Em vídeo publicado nas redes sociais, ele classificou a sentença como um ataque à liberdade artística e afirmou que a decisão ignora o contexto do humor como linguagem.
No início do vídeo, Léo contou que recebeu a notícia da condenação enquanto gravava no SBT, e que preferiu se pronunciar apenas após ler toda a sentença.
– Esse vídeo não é piada. Aqui é o Leonardo, não o comediante. Uma persona cômica foi criada ao longo de anos, que usa figuras de linguagem como hipérbole, metáfora e ironia. Não se pode fazer uma análise literal de um texto humorístico, isso é básico dentro da estrutura da comédia – afirmou.
O humorista criticou a fundamentação jurídica da juíza Bárbara de Lima Iseppi, responsável pela decisão. Segundo ele, um dos argumentos citados na sentença foi baseado em informações retiradas da Wikipedia.
– Imagine um réu acusado de homicídio. O juiz consulta a Wikipedia e sentencia: pessoas podem mentir? Sim. Sabia, condenado. É isso que está acontecendo. A própria Wikipedia avisa que não é fonte primária, que não substitui pesquisa acadêmica. O meu show também tem aviso: é humor, ficção, obra teatral. Mas parece que estamos perdendo a capacidade de interpretar o óbvio.
Léo também rebateu o argumento de que, ao publicar piadas na internet, ele extrapolou os limites do teatro. A juíza afirma que, ao ir para o YouTube, o conteúdo “saiu do teatro”. O comediante ironizou:
– Se eu assistir a um filme de romance na minha sala, então posso processar os atores por atentado ao pudor? Isso é de uma limitação cognitiva grave.
Outro ponto que gerou indignação no humorista foi a afirmação de que, mesmo que fosse um personagem, ainda assim haveria crime. Para ele, esse raciocínio ameaça toda a liberdade artística.
Léo Lins também lamentou que a sentença tenha ignorado o apoio que recebeu de diversas pessoas pertencentes a grupos minoritários. Ele relata que, durante o julgamento, foi questionado pelo promotor se já havia considerado que seus apoiadores — entre eles negros, pessoas com deficiência e LGBTQIA+ — poderiam ser “uma minoria dentro da minoria”.
Para ele, a decisão representa uma inversão de valores sociais.
– Um olhar vira estupro. Uma piada, discurso de ódio. E a corrupção virou o padrão. Estamos nivelando a sociedade pelo idiota. Porque alguém pode interpretar mal uma piada, todos são punidos. A comédia é feita para o outro, e sem o outro, não tem graça.
O humorista encerrou o vídeo agradecendo o apoio que tem recebido de colegas, juristas, jornalistas e do público. Disse que muitas mensagens o emocionaram, como a de um jovem que afirmou ter superado uma crise de depressão com a ajuda de seus shows.
Veja o vídeo: